Moças e rapazes ostentam nacionalidades distintas, sonham com empregos no exterior, demonstram interesses em projetos circenses de inclusão social e buscam um aperfeiçoamento profissional raro para um ofício que tradicionalmente era transmitido de pai para filho.
— Eu viajo há cinco anos pela América Latina me apresentando. Cada
país tem suas características. Na Argentina, por exemplo, você tem muito
circo de rua, de passar o chapéu. No Peru, há eventos circenses
patrocinados por empresas. Aqui eu sabia que encontraria uma boa base de
ensino — diz o peruano Antonio Marrache, de 25 anos.
Marrache é um dos 60 alunos da Escola Nacional de Circo, instituição federal inaugurada em 1982 e administrada pela Funarte. Todos recebem bolsa de R$ 2.500 e no fim do curso de dois anos, dado por 16 professores, saem com um diploma de Técnico em Arte Circense. O panorama é animador, mas não era assim até 2014. Antes, eram 180 alunos para dez professores, num curso de quatro anos. Não havia bolsa para todos, e a evasão era grande.
Agora a ENC tem alunos oriundos de sete países e é das mais procuradas da América Latina. Na última seleção, em 2015, foram 400 inscritos. A próxima será neste ano, ainda sem data definida.
— A escola foi fundada por demanda da comunidade circense, para que seus filhos pudessem ter uma formação fora da lona. Mas hoje temos alunos que vêm da ginástica artística, da dança, do teatro e das artes marciais. É um perfil bem variado — afirma Carlos Eugênio Vianna, diretor da ENC.
Hoje,
entre os jovens artistas, o Soleil é um sonho de visibilidade
internacional. Com espetáculos cheios de efeitos visuais, coreografias
complexas e elementos de dramaturgia, o grupo tem empregado gente de
quase 50 países, brasileiros inclusive.
— Uma nova produção surgiu das escolas, e isso não pode ser ignorado. Mas não vejo como ruptura, e sim como continuidade. Foram os próprios circenses que fundaram as escolas — afirma Verônika Tamaoki, equilibrista e coordenadora do Centro de Memória do Circo, em São Paulo. — O que falta é criarmos condições para exportar espetáculos e não apenas os artistas. Há circenses brasileiros em todo o mundo. Mas não devemos mandar só o algodão se podemos mandar o tecido.
Há relatos de circo no Brasil desde o século XVIII. O auge foi entre o fim do XIX e meados do XX. Seus artistas tinham fama nacional. O palhaço Piolin (1897-1973), por exemplo, era amigo dos modernistas de 1922. Outros, como os palhaços Carequinha (1915-2006) e Torresmo (1989-1981), deixaram as lonas e tiveram programas de TV. As grandes companhias atraíam milhares de pessoas.
Hoje, há elementos do circo em peças de teatro, grupos de dança e até em atividades infantis. Há dezenas de oficinas de circo para crianças, e cada vez mais adultos se inscrevem em aulas de acrobacia em busca de uma atividade física.
— Os circos eram muito fortes. Imagina o que era chegar com uma trupe num município que não tinha nada. Era um acontecimento — afirma o jornalista Mauro Ventura, autor do livro “O espetáculo mais triste da Terra” (Companhia das Letras, 2011), sobre o incêndio que vitimou mais de 500 pessoas no Gran Circus Norte-Americano, em 1961, em Niterói. — O circo, hoje, se mescla com outras artes, o conceito se ampliou e não é mais circunscrito ao formato tradicional.
Um exemplo desse
novo profissional circense é Alan Pagnota. Paulista de 37 anos, formado
em Educação Física, ele já se apresentou na rua, fez eventos para
empresas, trabalhou em picadeiros e ministra cursos de palhaço. Em 2013,
foi um dos três profissionais, entre 30 mil inscritos, selecionados no
Brasil para participar do grupo performático Blue Man, e morou um ano em
Nova York. Em paralelo, Alan montou, em parceria com o artista
cadeirante Rafael Ferreira, o projeto Dupla Mão na Roda, em que utilizam
acrobacias e comicidade para quebrar preconceitos.
— Houve uma ruptura nos anos 1970, quando o circo passou a ser ensinado fora das famílias — diz Junior Perim, um dos fundadores do Crescer e Viver e ex-secretário de Cultura do Rio. — Mas as escolas ainda reproduzem o modelo tradicional. Quando se olha para o cenário na América Latina, encontra-se um circo que se repete não só no modo de produção, mas também no estético. O circo precisa criar novas relações de consumo, ampliando sua legitimidade junto a diferentes públicos.
Marrache é um dos 60 alunos da Escola Nacional de Circo, instituição federal inaugurada em 1982 e administrada pela Funarte. Todos recebem bolsa de R$ 2.500 e no fim do curso de dois anos, dado por 16 professores, saem com um diploma de Técnico em Arte Circense. O panorama é animador, mas não era assim até 2014. Antes, eram 180 alunos para dez professores, num curso de quatro anos. Não havia bolsa para todos, e a evasão era grande.
Agora a ENC tem alunos oriundos de sete países e é das mais procuradas da América Latina. Na última seleção, em 2015, foram 400 inscritos. A próxima será neste ano, ainda sem data definida.
— A escola foi fundada por demanda da comunidade circense, para que seus filhos pudessem ter uma formação fora da lona. Mas hoje temos alunos que vêm da ginástica artística, da dança, do teatro e das artes marciais. É um perfil bem variado — afirma Carlos Eugênio Vianna, diretor da ENC.
No Brasil, os primeiros cursos para a formação de profissionais de
circo surgiram na década de 1970. Nos anos seguintes, desenvolveu-se o
modelo de companhias contemporâneas, como a Intrépida Trupe, do Rio,
criada em 1986. Também na mesma época, grupos estrangeiros, como o
canadense Cirque du Soleil (1984), foram fundados, aumentando a
visibilidade da arte circense no mundo e oferecendo novas perspectivas
aos profissionais.
— Uma nova produção surgiu das escolas, e isso não pode ser ignorado. Mas não vejo como ruptura, e sim como continuidade. Foram os próprios circenses que fundaram as escolas — afirma Verônika Tamaoki, equilibrista e coordenadora do Centro de Memória do Circo, em São Paulo. — O que falta é criarmos condições para exportar espetáculos e não apenas os artistas. Há circenses brasileiros em todo o mundo. Mas não devemos mandar só o algodão se podemos mandar o tecido.
Há relatos de circo no Brasil desde o século XVIII. O auge foi entre o fim do XIX e meados do XX. Seus artistas tinham fama nacional. O palhaço Piolin (1897-1973), por exemplo, era amigo dos modernistas de 1922. Outros, como os palhaços Carequinha (1915-2006) e Torresmo (1989-1981), deixaram as lonas e tiveram programas de TV. As grandes companhias atraíam milhares de pessoas.
Hoje, há elementos do circo em peças de teatro, grupos de dança e até em atividades infantis. Há dezenas de oficinas de circo para crianças, e cada vez mais adultos se inscrevem em aulas de acrobacia em busca de uma atividade física.
— Os circos eram muito fortes. Imagina o que era chegar com uma trupe num município que não tinha nada. Era um acontecimento — afirma o jornalista Mauro Ventura, autor do livro “O espetáculo mais triste da Terra” (Companhia das Letras, 2011), sobre o incêndio que vitimou mais de 500 pessoas no Gran Circus Norte-Americano, em 1961, em Niterói. — O circo, hoje, se mescla com outras artes, o conceito se ampliou e não é mais circunscrito ao formato tradicional.
— Eu também participo da Cia iLtda, em que, dos dez artistas, seis
têm alguma deficiência — conta Alan. — É uma forma de dar ao circo um
objetivo mais amplo.
A Cia iLtda foi criada dentro do Circo Crescer e Viver, um projeto
carioca fundado em 2000 e que une a arte circense com transformação
social, voltado sobretudo para jovens de classes sociais menos
abastadas.— Houve uma ruptura nos anos 1970, quando o circo passou a ser ensinado fora das famílias — diz Junior Perim, um dos fundadores do Crescer e Viver e ex-secretário de Cultura do Rio. — Mas as escolas ainda reproduzem o modelo tradicional. Quando se olha para o cenário na América Latina, encontra-se um circo que se repete não só no modo de produção, mas também no estético. O circo precisa criar novas relações de consumo, ampliando sua legitimidade junto a diferentes públicos.
Nenhum comentário:
Postar um comentário